domingo, 26 de janeiro de 2014

Máquina do tempo.


Certa vez um querido professor repreendeu a sala por sempre usar as palavras "Claramente/Certamente/Com certeza" em suas respostas com relação à literatura. Segundo ele, nunca podemos ter a certeza de nada, uma vez que o texto é lançado no mundo, ele deixa de ser do autor e passa a adquirir diversos significados para cada um que o lê. Por isso nunca podemos dizer tais palavras.

Mas como isso não é literatura, eu arrisco dessa vez e digo que tenho certeza de que você, que está perdendo tempo lendo este texto, já imaginou como seria a vida se os geniais cientistas que passam suas vidas em busca de novas descobertas, finalmente descobrissem uma maneira de inventar uma máquina ou objeto que pudesse lhe levar aos melhores tempos de sua vida.

Quem não adoraria voltar para a infância onde nada era obrigatório além de tomar banho, e a única preocupação necessária era se teria alguém para brincar durante o dia?

Sempre quis voltar há algum momento passado, aqueles que fizeram com que meu rosto quase rasgasse de tanto sorrir, mas nunca desejei realmente revivê-los. Me contento com as lembranças, e eis que descobri a minha própria máquina do tempo.

Deitada na cama resolvi parar de ouvir um pouco Nightwish e migrar para qualquer outra pasta. Cliquei em "Japanese" e a cada três, quatro minutos eu lembrava de uma algum momento perdido lá de 2008. Ouvi cada música envolvida em lembranças e saudade daquele tempo. 

Depois migrei para a pasta "Shakira", e comecei a lembrar de todos os meus amores fracassados e como as músicas dela me ajudaram a superar cada desencanto e sair andando pela casa cantarolando "Bruta, ciega, sordomuda, torpe, traste y testaruda, es todo lo que he sido por ti me he convertido!!!" ou praticamente gritando a plenos pulmões "Sí Te Vas".

A pastinha "American" é a mais nostálgica! Dentre todos os artistas os que se destacam mais por me fazer relembrar àquela época de ouro de 2001 são as músicas do N'Sync e do Offspring. "Bye, bye, bye" é um clássico da minha vida, o que me faz lembrar do Rock in Rio em que eles vieram se apresentar e justamente neste dia, meu pai resolveu colocar meu irmão e eu de castigo sem TV ou rádio porque estávamos fazendo alguma macaquisse que o incomodou. Chorei a noite toda. 

"Pretty fly (for a white guy)" me lembra das tardes gastas na rua jogando taco, vôlei ou apenas conversando naquele verão. Um dos meus amigos se chama James, e no refrão dessa música quando a mulher canta com uma voz de quem quer dar "Give to me, baby!" nós cantávamos: "James comeu Baby!"  Ele ficava puto, mas achava engraçado também.

Que saudade!!! 

A pasta "Arabic" me lembra da época em que meu avó era vivo e vinha todos os dias tomar café com a minha mãe, então, para agradá-lo, eu saia um pouco do rock e colocava músicas árabes para vê-lo se balançando de um lado para o outro com um sorriso sereno no rosto. Acho que ele lembrava do Líbano, terra que ele tanto amava e sonhava um dia levar a família toda para lá.

Tenho uma pasta com músicas "Brasileiras", ela é composta com músicas do CPM 22, Djavan, Legião Urbana, Falamansa, César Menotti e Fabiano, entre outros. Não tenho vergonha em dizer que escuto todas e que cada uma me lembra da época do colegial, época em que aprendi a aceitar as pessoas como elas são e com os gostos diferentes do meu. Ouço cada uma em homenagem a tudo o que vivi com eles no meu querido E.E.P.A.M.

A pasta "French" me lembra uma época de agonia e desespero. Desespero pois eu era a única na faculdade que não tinha capacidade suficiente para aprender Francês. Culpa da Madame Jorge e da fofa Raquel.
Na agonia para tentar ao menos pronunciar algo, eu ouvia muita música francesa para me acostumar com o idioma; após quatro anos, só me sobrou as músicas e a lembrança de uma turma queridíssima, pois o idioma nunca chegou a  sequer sentar do meu lado.

Uma vez eu viajei para Lins, uma cidade que fica há oito horas de transporte terrestre daqui de São Paulo. No ônibus uma amiga me perguntou se eu gostava de música Celta, eu respondi que nunca tinha ouvido e naquele momento, ela me viciou na banda Gràda. Excelente! Tanto que ela ganhou uma pasta exclusiva no meu MP4.

Quando perdi meu pai, eu fiquei um tanto quanto revoltada, com nada na verdade, pois eu podia ser incoerente com um motivo aparente, mas que não justificava nada. Então, eu resolvi virar roqueira.
Ouvia muito Iron Maiden, Metallica, Angra, Kiss, Kansas, Linkin Park, Whitesnake e AC/DC. Bandas e músicas que me marcaram de tal maneira que, mesmo com um sangue que pede músicas dançantes, latinas, agitadas, orientais e cheias de ritmo e batuques, meu sangue também pede baixo, guitarra e bateria extremamente altos, do tipo que te faz querer andar por aí destruindo tudo e remexendo os cabelos como um louco qualquer.

Ah, o Rock! [...] Sempre volto para ele, cedo ou tarde.

E, por último, tenho a pastinha nomeada "Hinos", que contém o hino do São Paulo F.C., da Sociedade Esportiva Palmeiras (porque é o hino mais lindo do mundo, e porque meu pai era o maior palmeirense do Brasil!), o hino do Santos e o hino do Real Madrid (Hala Madrid!!!). Essa pasta nada mais é do que um lembrete de que eu tenho um amor que não posso largar, apesar do tempo escasso e da raiva mortal que cada jogo pode me proporcionar, eu não posso viver sem assistir aos jogos dos meus times (São Paulo e Real Madrid).


Todas essas pastas e músicas representam uma parte de mim, uma época vivida e querida, um pedacinho de mim que apenas eu conheço. Isso representa a diversidade que busco viver, pois acho um desperdício viver sem conhecer outras culturas, novas pessoas, novos ritmos. Acho injusto com os artistas e consigo mesmo não se permitir ouvir outros gêneros musicais.

A música é a arte que lhe permite sentir um milhão de emoções sem ao menos sair de casa; não é à toa que todo mundo anda por aí com fone de ouvidos. Nós precisamos da música para nos acalmar, para conseguirmos reunir o mínimo de força possível para enfrentar o mundo injusto ao qual pertencemos.

Viva à música! E viva à diversidade! 

Salve a minha máquina do tempo.




Um comentário:

  1. Nenhuma espera é em vão.
    Adorei o texto, como eu imaginei que seria, cheio de lembranças boas e de ótimas músicas. Imagino você indo e vindo, transitando por todas as épocas de sua vida com uma diferença de apenas 4 minutos (ou até menos).

    Texto leve e envolvente. Muito bom! =)

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