segunda-feira, 14 de julho de 2014

Sentidos

Eis que confesso ser um tanto quanto vaidosa no quesito cosméticos. Tento ao máximo não relaxar com esses detalhes, por isso sempre acabo escolhendo um creme ou um perfume específico para cada ocasião.

De fato, o frio machuca e resseca a pele, principalmente a de uma pessoa que como eu adora tomar banho com a água fervendo; isso exige o dobro de creme para que o prazer da água quente não me transforme numa velha enrugada antes do tempo. Hoje escolhi um que utilizei raras vezes, o conservei o máximo que pude, pois desejei que cada vez que eu o derramasse sobre minha pele as consequências fossem incríveis e inesquecíveis, que realmente valessem à pena.


Em questão de um segundo, o aroma que exalava enquanto o creme caia do potinho até minha pele, me veio à cabeça lembranças de dias muito felizes, o som de uma voz grave me chamando ao longe, o cômodo fechado e seguro no qual eu me encontrava todas as vezes em que eu passava este mesmo produto, aposto que se eu fechasse os olhos conseguiria descrever detalhes e mais detalhes de cada dia em que essa essência me acompanhou. Na verdade, eu apenas lembraria e reviveria tais momentos, não me considero capaz de descrever o que esse perfume significa para mim, o que ele realmente me mostra e me faz reviver. São sentimentos extremamente pessoais e que não fariam sentido caso fossem proferidos.

E digo mais, tenho absoluta certeza de que daqui há alguns anos, este cheiro ainda me trará as mesmas emoções e lembranças com a mesma intensidade com as quais foram vividas.


Engraçado como memorizamos coisas tão pequenas mas que podem balançar sua alma caso você se permita relembrar tais momentos com a mesma ferocidade que a saudade esmaga seu peito.


Às vezes viver a vida sem sentido é menos dolorido do que seguir um rumo fixo.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Miss u grandpa!


Há muitas coisas diferentes acontecendo em minha vida, uma delas é a nova rotina de transporte público que, com muito custo, estou tentando aprender. Ainda preciso da ajuda dos cobradores irritados com a população para saber exatamente em qual ponto descer, e hoje eu peguei o ônibus errado... fui parar muito longe do metrô, a sorte é que por conta de algumas desventuras recentes eu sabia exatamente onde estava e pude correr para o ponto mais próximo que me colocaria de volta à rota de fuga.


Demorei o dobro do que demoraria normalmente para chegar na última etapa dos transportes, que carinhosamente eu chamo de "Cérbero Paulista", o ônibus da linha verde!

Caia uma chuvinha tão fina que poderia ser confundida com o sereno da madrugada, havia três filas de pessoas esperando às próximas peruas, como a terceira era a menor, me acomodei nela e fiquei observando as pessoas nas duas primeiras fileiras. Sim, tenho esse péssimo hábito de analisar as pessoas, mas veja, eu observo seus gestos e expressões, não suas roupas ou cabelos. Quando a primeira fila se foi, demos aquele passinho básico para o lado e assumimos a fileira dois, enquanto a segunda tomou o lugar da primeira.

Observando as pessoas adentrando no veículo, vi que no final da fila estava um senhor com idade suficiente para entrar na frente de qualquer pessoa, mas lá estava ele, aguardando pacientemente sua vez. Fiquei observando seu rosto, gordinho, cheio de marcas do tempo mas com uma inocência quase infantil nos olhos e a boca entreaberta, ele prestava atenção em tudo enquanto dava pequenos passos em direção à porta, como se não quisesse fazer nenhum movimento errado. Ele era menor que eu, gordinho (eu já disse isso?), se apoiava em um guardachuva grande e preto.

Eu o observei com muita admiração, porque às vezes isso acontece, você se encanta por alguém que nunca mais irá ver e nem sequer trocará uma única palavra, mas ela te conquista mesmo assim.

Vi que sobrou lugar na van e rapidamente abandonei a fila e subi, me sentei em frente ao velhinho que me encantou e fez meu coração doer tanto em uma questão de dois minutos como não doía há anos, pois senti uma falta imensa dos meus vovôs, principalmente o meu "jûdo", que não passava uma tarde sem vir à minha casa tomar café e ouvir uma ou duas músicas árabes, sem contar todas as vezes que ele me convidava para discutir o que acontecera no último capítulo de "Maria do Bairro", sim, ele era viciado em novelas mexicanas.

De qualquer forma, me sentei à sua frente, sem olhá-lo, e fiquei lembrando de coisas passadas, me ocorreu em como eles ficam frágeis e dependentes no final da vida, que isso acontecerá comigo e com você, que está se dando ao trabalho de ler este texto. Senti uma vontade imensa de abraçar aquele homem, pois não importava o que ele havia feito no passado, não queria saber se ele era ou não um bom homem, naquele momento ele era um senhor de idade fofo demais para não ser admirado. Quando chegou no seu ponto, ele deu sinal e desceu os degraus com uma rapidez duvidável para alguém com tantos cabelos brancos, ao pisar na calçada ele se virou e, por um segundo, achei que ele bateria continência para o motorista, mas levantou o polegar esquerdo e murmurou um "obrigado", depois seguiu seu caminho.


Não pude deixar de sorrir com aquilo, foi a coisa mais simples que uma pessoa podia fazer para agradecer, mas ao mesmo tempo foi tão respeitoso e sincero, que se ele tivesse dado flores ao motorista não teriam tanto valor quanto este pequeno gesto. Continuei sorrindo por mais alguns minutos e agradeci a mim mesma por ter, dessa vez, lembrado de que eu possuo um celular com câmera e que eu não perderia novamente a chance de fotografar àqueles que me fazem repensar em como eu levo a minha vida e o que carrego de realmente valioso comigo¹.

Obrigada, senhor fofura. Espero que nunca fique bravo comigo por este apelido carinhoso, mas você, sem a menor intenção, me trouxe tantas lembras boas que eu só queria te abraçar e dizer: "Boa noite, vovô".



¹ Vide "Herói de Mármore", perdido em alguma página deste mesmo blog.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

I'll know my name as it's called again ♫

Às vezes é inevitável nos compararmos com outras pessoas e isso gera algumas questões um tanto quanto difíceis de serem respondidas.

Ontem à noite eu estava conversando com um caro amigo, estávamos contando nossas últimas desilusões e rindo da desgraça um do outro, então ele me contou como supera os desastres da vida. Eu discordei da sua maneira de superação e contei a minha; para ele pareceu que eu apenas sobrevivo nesse mundo e isso o fez discursar sobre como a vida é curta, que o melhor é viver sempre no limite e começou a explicar como a vida é parecida com os esportes radicais e etc. Obviamente fiquei contrariada, disse o que eu considero realmente importante e lá se foram quase duas horas de um debate emocionante sobre nossas perspectivas de vida e ações que consideramos as melhores e mais úteis. 


Foi algo bem produtivo e interessante, mas no final, nenhum dos dois mudou de ideia. Nos despedimos e fomos dormir.



Fiquei pensando sobre tudo e finalmente eu entendi que é essa expectativa de vida que cada um tem que torna essencialmente cada ser humano único e inigualável. Não podemos mudar ninguém e nem deveríamos um dia querer tal coisa, inclusive de nós mesmo, foi então que aceitei as minhas escolhas. Confesso, não sem um pouco de constrangimento, que sempre me comparei com outras pessoas, me perguntava com frequência o porque eu não podia ser igual às mulheres da minha idade, por que eu nunca me interessei pelos mesmo assuntos e se isso influenciava nos meus amores fracassados.


Pode ser que influenciem, afinal, as pessoas costumam generalizar tudo e a todos, por que não generalizar a banalidade da mulher atual? Mas, a partir do momento em que o cara pára um minuto para analisar a mulher ao seu lado, ele precisa ver suas qualidades e defeitos, se o que há de melhor nela se sobrepõe ao pior e assim por diante. Então, não, Suade, suas escolhas não influenciaram os fracassos amorosos. Os fracassos ocorreram porque os homens não estavam prontos para algo diferente, ou, simplesmente eu não era aquilo que eles esperavam, fazer o quê?


Minhas escolhas só influenciam meu próprio futuro e é assim que eu quero que seja. Não vou mais pensar em mudar por ninguém, não quero mais tentar melhorar para que um dia alguém me veja como uma pessoa especial. Vou permanecer com os meus sonhos, meus modos, minhas convicções e vou ser feliz assim.


Para mim há coisas mais importante do que conhecer o mundo, ficar com mais de dez homens em uma festa, ser bonita o suficiente para que todos os homens que passarem por mim virem o pescoço para me admirar, ou ter todas as roupas da marca mais cara do mundo apenas por status.

Não!

Vou continuar com o meu all star vermelho furado e imundo, ele já tem o formato certinho do meu pé e só Deus sabe o quão difícil é modelar um all star! Continuarei desejando um amor que me enlouqueça, porque sim, eu sou do tipo de mulher que acredita no amor impossível, grudento, arrebatador, amigo e avassalador. Quero conhecer o mundo, mas não sozinha... Vou levar esse amor comigo para onde meu destino me guiar. Vou permanecer com os meus livros nas noites frias ao invés de encontrar qualquer corpo quente para me esquentar, eu não sou uma qualquer, não mereço qualquer um. Eu mereço um príncipe (no mínimo)! 

E é assim que eu finalmente me aceito, da maneira imperfeita e esquisita que sou, com os sonhos que meu coração suplica todos os dias, com a minha beleza incomum e meu corpo todo trabalhado no chocolate (algo que simplesmente jamais abrirei mão).

Benvinda ao mundo novamente, Suade! Dessa vez eu vim para conquistar e não mais tentar.

Seja o que Deus quiser.

MAKTUB!




Cause I need freedom now, and I need to know how,
To live my life as it's meant to be.
And I will hold on hope,
And I will let you choke,
On the noose around your neck,
And I find strength in pain,
And I will change my ways,
I'll know my name as its called again.
 ♫