sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Meia-noite em Paris






Chame de obsessão ou apenas vício literário, mas tudo tem um toque de mitologia. Tudo mesmo!

Por exemplo, lendo Mito e Realidade do Mircea Eliade, cheguei a conclusão que o filme Meia-noite em Paris do Woody Allen, nada mais é do que uma clara e bela explicação da influência dos mitos em nossas vidas.

Explicarei o por quê.

Leia com atenção o seguinte trecho e me acompanhe neste devaneio:

"Ao recitar os mitos, reintegra-se àquele tempo fabuloso e a pessoa torna-se, consequentemente, 'contemporânea', de certo modo, dos eventos evocados [...] ao 'viver' os mitos, sai-se do tempo profano, cronológico, ingressando num tempo qualitativamente diferente, um tempo 'sagrado', ao mesmo tempo primordial e indefinidamente recuperável. [...] O indivíduo evoca a presença dos personagens dos mitos e torna-se contemporâneo deles."

Note que o trecho define quase toda a trajetória de Gil pelas ruas de Paris após entrar no carro mágico que o transporta para o que é, na sua concepção, a melhor época de todas, Paris de 1920. Todos os escritores ou alunos de literatura foram "treinados" para adorar e venerar escritores de épocas passadas. A maioria, se não todos, só obtiveram reconhecimento por seu trabalho após sua morte. Lembro da maneira apaixonada que o professor Camilo explicava e dissecava cada palavra dos poemas de Camões ou Fernando Pessoa.

Então, imagine meu professor voltando no tempo e conhecendo Fernando Pessoa! Ele enlouqueceria de felicidade, mas só ele! Esse é o seu momento de ouro, o seu "deus" literário (estou supondo).

Pois bem, lá estava o Gil andando aleatoriamente por Paris, quando se depara com seus escritores favoritos, como F. Scott Fitzgerald, Hemingway e por aí vai. Entre um passeio e outro ele se apaixona por Adriana, mas acaba perdendo-a para o que na concepção dela era a melhor fase da vida, a "época de ouro".

Parece-me que sempre procuramos nos basear em mitos que nos forcem a acreditar que a melhor ainda esta por vir.

Lembrando que o mito é a explicação do inexplicável, é a iniciação do novo.

[...]

Talvez seja melhor eu parar de ler sobre mitos. Estou ficando maluca.