segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Mais uma vez...


   Lá estava eu, em uma rodinha de amigos esperando meu ônibus chegar, quando me dei conta de que, das cinco pessoas que ali estavam, quatro tinham corações feridos. A primeira há tempos vem tentando reconstruir seu coração, e acho que está no caminho certo, é a mais próspera ao meu ver; a segunda é quase um lobisomem, que sofre com as fases da lua (o problema é que sua lua muda todos os dias); a terceira, eu nem imaginava quem era ela, também estava ferida; e eu, que apesar de ter aceitado, ainda sofro com o calafrio da insegurança.
   Cheguei em casa e curti a maior fossa que podia, regada a muito chocolate e música melosa do tipo: “como posso amar se não confio em ninguém?” ou “não tenho você, mas te amarei para sempre”, esse tipinho. Não ouço tais músicas pensando em alguém específico, tento imaginar o ser que um dia irá me tirar dessa constante lamentação, o que é triste, pois até hoje não consegui fixar um "amor imaginário". Nessas horas eu sempre me imagino como uma drogada que sabe quais são as consequências, mas não se importa. Recebo a droga e a abraço como uma velha amiga para no dia seguinte, acordar com a cabeça latejando, olhos inchados e com toda a hipocrisia do mundo olho para espelho e pergunto: “por que fiz isso de novo?”, e sem piedade o reflexo responde: “porque você quis”. 

   Saí de casa no mesmo horário de sempre e o céu me recebeu com gotas grossas e ofensivas, o dia estava horroroso. Tive a sorte de pegar um ônibus vazio, o que me permitiu sentar na janela e olhar com absoluto desprezo aquele céu desanimador. Passados dez minutos, notei que lá no “fundo” as nuvens eram claras em meio ao um infinito azul, olhei novamente para o lado e vi que as nuvens negras permaneciam no mesmo lugar, estapeando os vidros do ônibus com suas gotas atrevidas.
   Já devo ter visto isso antes, mas hoje fiquei maravilhada como uma única coisa pode ter duas faces tão distintas. Me dei conta que esse era o reflexo do meu estado de espírito. Aos poucos as nuvens negras ganharam leves toques de um amarelo brilhante, quase dourado; imaginei que o Sol viera (com uma hora de atraso) tomar seu lugar de direito. O trajeto entre a minha casa e o metrô é de mais ou menos quarenta minutos, nesse tempo vi o Sol se rebelar e dominar cada nuvem negra, transformando uma por uma em um algodão branquinho.
   Não tive vontade de sorrir ao ver tudo isso, confesso que apesar da beleza, essa cena só me deu a certeza de que um dia eu voltarei ao normal, que irei olhar alguém e deseja-lo com todo o meu coração e poderei olhar em seus olhos e confiar que amor e paixão realmente existem. Não creio que acontecerá em breve.

Enquanto isso, espero pacientemente o meu próprio Sol nascer.

   Não acredito na ira de Deus contra aqueles que seguem seu coração, não me deixo intimidar pelas “mãos de um Deus irritado”, pois acredito que Suas mãos sejam o sono que me envolve quando mais preciso, e que Ele tem algo muito bom para mim. Só me pergunto quanto tempo terei que esperar para receber tal graça. Vejo minhas amigas que mereciam ter um amor e ainda não o tem, mais uma vez, por que eu seria a exceção?
   Fico no aguardo do meu Sol [...] de que parte do mundo ele virá?
 

sábado, 26 de outubro de 2013

How do you run away from things that are in your head?

Encontrei em meio as árvores uma casa simples, com paredes cor de pêssego e uma única porta branca, e seu interior era composto por duas escadas que ligavam os andares da residência.

No primeiro andar não havia nada além de um banheiro e algumas caixas esquecidas no canto. Ao subir os degraus da primeira escada, notei que o segundo andar era dividido em duas partes, caminhei para a esquerda e encontrei uma sala composta por dois sofás e uma mesa de centro sobre um tapete escuro, em cima de uma mesinha de canto, uma TV desligada refletia os gestos de quem ali adentrava. Voltei atrás, em direção à direita, e entrei em uma cozinha pequena, limpa e organizada; havia duas portas de vidro que dava acesso a um pequeno jardim no qual não havia flores, mas pés de legumes.

Retrocedi mais uma vez e subi a segunda escada, que continha mais degraus e uma curva. Ela me conduziu há dois quartos e um banheiro. Um dos aposentos estava vazio, não possuía nada, somente uma janela. O segundo mostrava indícios de que alguém ali vivia, pois a cama no centro fora desarrumada recentemente; não havia nada que me interessasse ali.

Desci a escada correndo e vi, parado no último degrau da primeira escada, um senhor com uma camisa azul clara, não posso explicar, mas soube que ele não era o dono da casa. Ele usava jeans, seu cabelo era grisalho e sua barbara era grande, como se há algum tempo ele esquecera que tinha uma para cuidar. Olhei seu rosto cheio de rugas, e em seus olhos eu vi um misto de tristeza, decepção e pesar; ele estava ali, imóvel sem levantar um único dedo contra mim, apenas me encarava. Não o temi, mas entrei na cozinha e fechei a porta, pois não queria sentir aquele olhar sobre mim; contei dez minutos no relógio e abri a porta, ele sumira, então desci correndo os degraus para trancar a porta de entrada. Surpresa e, dessa vez, com frio na barriga, vi que lá estava ele de novo, com o mesmo olhar só que dessa vez senti que ele queria dizer algo a mim. Fechei e tranquei a porta com força, subi novamente vinte e um degraus para chegar ao andar de cima.

Acordei no quarto do terceiro andar, naquela cama desarrumada. Estava escuro e tudo o que eu podia ouvir era o canto dos passarinhos me convidando para levantar e ver o céu nublado que o dia trouxera. 




Não consigo parar de pensar no que ele queria me dizer.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Gestos, cheiros e suposições.

Um mecânico de aparência rústica, barba grisalha, boné e jaleco cheios de graxa andava calmamente com um embrulho rosa nos braços; em seu rosto havia uma expressão serena, como se nada no mundo fosse importante além daquele bebê em seu colo. Me atentei ao seu rosto e presumi que aquela serenidade era puro amor, no qual ele se refugiava de seus dias carregados de sujeira e trabalho pesado.
Observei aquele homem de aparência tão rude, com gestos tão delicados e carinhosos, descer dois degraus da calçada com o maior cuidado possível e entregou a criança à uma jovem que o aguardava do outro lado da calçada.



Fazia 32º às 19:30hs da noite, parada junto à multidão na plataforma do metrô, enquanto o trem se aproximava observei um rapaz fechar os olhos e se deliciar com o vento que o trem em alta velocidade trazia pelo túnel.

Uma garota com rosto sério vestia uma camiseta preta com os dizeres em dourado: “I <3 Super Junior”, imediatamente eu a imaginei em sua casa, em frente ao computador esperneando ao ver aqueles coreanos estilosos, porém estranhos, em mais um novo clipe.

Apesar do calor, o céu já estava nublado e uma brisa morna começava a se manifestar. Em meio ao cheiro de gasolina, lixo, entre outros odores da metrópole, a brisa trouxe um cheirinho de água misturada com terra e algum perfume barato,  que me trouxe uma lembrança de uma cidade praiana cujas ruas não são asfaltadas. Uma memória velha que só deixou o cheiro em minha mente.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Tem certeza de que os deuses não nos ouvem?

"- Excelente, excelente! Agora, esta outra aqui... sim, minha cara? - interrompeu-se Slughorn, parecendo ligeiramente tonto ao ver a mão de Hermione perfurar mais uma vez o ar.
- É Amortentia!
- De fato. Parece quase tolice perguntar - comentou o professor muito impressionado -, mas presumo que você saiba que efeito produz, não?
- É a poção de amor mais poderosa do mundo! - disse a garota.
[...]
- A Amortentia na realidade não gera amor, é claro; É impossível produzir ou imitar o amor. Não, a poção apenas causa uma forte paixonite ou obsessão. Provavelmente é a poção mais poderosa e perigosa nesta sala. Ah, sim - confirmou solenemente com a cabeça para Malfoy e Nott, que riam descrentes. - Quando vocês tiverem visto tanto da vida quanto eu, não subestimarão o poder do amor obsessivo..." p. 148 - Harry Potter e o Enigma do Príncipe.

"Cuidado com o que deseja - advertiu Merlim, olhando fixamente para Uther -, pois os deuses certamente satisfarão seus desejos." p. 51 - As Brumas de Avalon; livro: A Senhora da Magia.

"É por isso que a literatura nos ensina a viver, ela nos mostra os truques da vida." Mestre Camilo, em alguma aula de 2009.


Não posso dizer que a literatura não me avisou. No entanto, qual ser humano em meio ao delírio ouviria tais conselhos?

Eu desejei tanto! Rezei, pedi aos deuses, céu, lua, terra e mar. Prometi mil vezes que mudaria para merecer novamente seu amor, e jurei ser uma pessoa melhor para reconquistá-lo. 

Não fui e nem serei a única pessoa que sofreu por amor, mas, depois que superei (porque acredite, todos nós superamos!) nada mais me restou além de vergonha e mágoa. 
Por amor cheguei a engolir meu orgulho e ir atrás; esperei, desejei e quis todos os dias que tudo voltasse a ser como era antes. Eu não queria entender que o fim era o início de uma nova fase a qual não havia mais espaço para a mesma história.

Que loucura esquecer a si próprio e se dispor a amar incondicionalmente um outro ser! É idiotice achar que há a possibilidade de mudar e ser melhor apenas para satisfazer um capricho egoísta do outro. Somos tão tolos quando amamos... Qual o real sentido de amar? Será que alguém um dia amou de verdade, ou a realidade é que sempre nos apaixonamos? Quem souber, por favor, me conte! Mesmo depois de tudo, ainda não sei qual é a real face desse sentimento tão ambíguo, doce e absurdo!

Não me arrependo de ter tentado, sem isso eu não conseguiria erguer a cabeça e seguir em frente com a simples certeza de que tentei. Lutei e não consegui. Se Aquiles não venceu todas as batalhas, por que eu seria a exceção? Tampouco esquecerei tudo o que vivemos, independente do final, foi muito bom enquanto durou.

Três meses depois, dois após ser resgatada pelo meu herói de mármore, compreendi que jamais mudarei. Posso ser maleável, me adaptar aos gostos do próximo, mas ninguém muda e é aí que mora a beleza de cada um. Além disso, entendi que se uma porta se fechou, uma melhor se abrirá. Ou que tudo não passou de um aprendizado para o futuro próximo.

Me arrependo apenas de ter desejado ardentemente que ele voltasse, porque ele voltou e eu já não o queria. Aceitei meu destino e espero ansiosamente o futuro com caminhos novos.

Não desejava vê-lo da mesma forma que eu fiquei.

De jeito nenhum.

"Cuidado com o que deseja.", essa é a lição que aprendi no momento mais caótico de minha medíocre vida.






sábado, 19 de outubro de 2013

Herói de mármore





Há alguns meses fui arrancada estupidamente do meu conto de fadas, sem nenhuma piedade ou misericórdia.

Tal brutalidade me deixou sem chão ou qualquer noção de realidade. 

É curioso como acabei me envolvendo, não só fisicamente, mas emocionalmente durante este relacionamento. Chega a ser hilário eu ter perdido o controle quando acabou. Irônico mesmo foi engolir tudo o que sempre aconselhei às minhas amigas, pois achava o sofrimento delas descabido, exagerado... "Aqui se faz, aqui se paga", o mesmo cabe às palavras ditas.

Confesso que deixei a angústia e a tristeza me dominarem, magoando todos que me amavam e me queriam bem; ignorei amigos, parentes e colegas de trabalho. Tudo era dor. Respirar era um martírio e pensar era um inferno, chorar era um alívio e dormir era uma dávida concedida pelos deuses ao meu espírito perturbado.

Não me orgulho disso.

[...]

Foi em uma segunda-feira, dia 26 de agosto de 2013, que voltei a realidade. 

Às 19:58hs, parada na plataforma do metrô eu me distrai olhando para as pessoas e pensei: "Não é possível que com tantas pessoas no metrô, o que dirá no mundo inteiro, eu vá ficar sozinha!". Entrei no trem e busquei o lugar mais confortável das paredes para me encostar e continuar a analisar descaradamente cada indivíduo.

Havia alguém diferente, um homem que realmente merecia ser admirado, pois sua beleza era incomparável. Tentarei descrevê-lo dignamente, mas não creio ser capaz de tanto. Ele devia ter 1,90 de altura, cabelos castanhos claros que lhe desciam até a nuca, lisos e perfeitos. Sua estrutura óssea era sublime, bem definida nas maçãs do rosto e um queixo quadrado; a pele sobre aqueles ossos era branca como o mármore e sua boca bem vermelha, como se todo o sangue que deveria circular pelo seu rosto se concentrasse apenas naquelas duas linhas grossas.

Perdi a noção do tempo, sem conseguir me conter fiquei observando e obviamente ele notou, creio ter visto um meio sorriso curvado naquele rosto divino. Desviei o olhar rapidamente, afinal, não queria passar a mensagem errada, eu apenas admirava tal beleza absurda e incrivelmente doce.

De alguma forma ele veio parar na minha frente, pude analisá-lo com mais afinco pois o espaço limitado não me permitia olhar para mais nada e notei que seus olhos eram inocentes e perdidos, como se uma criança espiasse o mundo através do corpo de um adulto. Talvez a beleza dele fosse demais para a sociedade padronista e ele se sentisse acuado.

Vi que suas mãos eram grandes e grossas, com as veias saltadas. Por maravilhosos 30 minutos pude visualizar e gravar sua imagem em minha mente, pois de alguma forma ele me resgatou do profundo abismo no qual eu mergulhava diariamente.

Posso descrevê-lo como o ar que enche meus pulmões após algum tempo submersa embaixo d'água. Durante a semana inteira esperei vê-lo novamente, mas essa sorte não me foi concedida. Com medo de que minha mente fraca me traísse e apagasse tudo de minha memória, anotei o máximo que pude em blocos de notas me xingando mentalmente por ter ficado hipnotizada e esquecido de pegar o celular e registrar com uma foto aquele anjo.

Às vezes me pergunto se ele realmente existe, se foi um devaneio, ou se ele foi um presente de Afrodite para que eu esquecesse tudo e, enfim, voltasse ao mundo real. A única certeza é que, a partir daquele dia, esqueci tudo que me machucava e decidi que prefiro descobrir o que há de novo do que viver a mesma história mais uma vez.

Jogo esse texto na imensidão do mundo digital para agradecer àquele que, sem saber, me salvou de mim mesma. Obrigada.