Lá estava eu, em uma rodinha de
amigos esperando meu ônibus chegar, quando me dei conta de que, das cinco
pessoas que ali estavam, quatro tinham corações feridos. A primeira há
tempos vem tentando reconstruir seu coração, e acho que está no caminho
certo, é a mais próspera ao meu ver; a segunda é quase um lobisomem, que sofre
com as fases da lua (o problema é que sua lua muda todos os dias); a terceira, eu nem imaginava quem era ela, também estava ferida; e eu, que apesar de ter aceitado, ainda sofro com o
calafrio da insegurança.
Cheguei em casa e curti a maior
fossa que podia, regada a muito chocolate e música melosa do tipo: “como posso
amar se não confio em ninguém?” ou “não tenho você, mas te amarei para sempre”, esse tipinho. Não ouço tais músicas pensando em alguém específico, tento imaginar o ser que um dia irá me tirar dessa constante lamentação, o que é triste, pois até hoje não consegui fixar um "amor imaginário". Nessas horas eu
sempre me imagino como uma drogada que sabe quais são as consequências,
mas não se importa. Recebo a droga e a abraço como uma velha amiga para no dia
seguinte, acordar com a cabeça latejando, olhos inchados e com toda a
hipocrisia do mundo olho para espelho e pergunto: “por que fiz isso de novo?”,
e sem piedade o reflexo responde: “porque você quis”.
Saí de casa no mesmo horário de
sempre e o céu me recebeu com gotas grossas e ofensivas, o dia estava
horroroso. Tive a sorte de pegar um ônibus vazio, o que me permitiu sentar na
janela e olhar com absoluto desprezo aquele céu desanimador. Passados dez
minutos, notei que lá no “fundo” as nuvens eram claras em meio ao um infinito
azul, olhei novamente para o lado e vi que as nuvens negras permaneciam no mesmo lugar,
estapeando os vidros do ônibus com suas gotas atrevidas.
Já devo ter visto isso antes, mas
hoje fiquei maravilhada como uma única coisa pode ter duas faces tão distintas. Me dei conta que esse era o reflexo do meu estado de espírito. Aos poucos as
nuvens negras ganharam leves toques de um amarelo brilhante, quase dourado;
imaginei que o Sol viera (com uma hora de atraso) tomar seu lugar de direito.
O trajeto entre a minha casa e o metrô é de mais ou menos quarenta minutos, nesse tempo vi o Sol se rebelar e dominar cada nuvem negra, transformando uma por uma em um algodão branquinho.
Não tive vontade de sorrir ao ver
tudo isso, confesso que apesar da beleza, essa cena só me deu a certeza de que
um dia eu voltarei ao normal, que irei olhar alguém e deseja-lo com todo o meu
coração e poderei olhar em seus olhos e confiar que amor e paixão realmente
existem. Não creio que acontecerá em breve.
Enquanto isso, espero pacientemente o meu próprio Sol nascer.
Não acredito na ira de Deus contra
aqueles que seguem seu coração, não me deixo intimidar pelas “mãos de um Deus
irritado”, pois acredito que Suas mãos sejam o sono que me envolve quando mais preciso, e que Ele tem algo muito bom para mim. Só me pergunto
quanto tempo terei que esperar para receber tal graça. Vejo minhas amigas que
mereciam ter um amor e ainda não o tem, mais uma vez, por que eu seria
a exceção?
Fico no aguardo do meu Sol [...] de que parte do mundo ele virá?
Su, ri um pouco com a cena de você ouvindo música fossa. Ri porque já me peguei em situações assim e depois sempre acabo rindo de mim... duas cenas me vêm a cabeça:
ResponderExcluirhttp://www.dailymotion.com/playlist/x2vzuo_dm_5265fe5c156d3_movie-scenes-for-class/1#video=xqcd9a
e
http://www.youtube.com/watch?v=iRhQHIqkTfw
Afinal, who has never walked itself in a room (or in the car), turned ons ad music and cried like the world would end? rs
Enfim, tô sentindo aí uma evolução nas suas metáforas, viu? tá soltando mais o verbo. A comparação com a droga é perfeita. Já pensei em escrever algo assim. Comecei um rascunho que nunca concluí. Obrigada por fazê-lo.
Quando estamos nubladas por dentro e o clima aqui fora não ajuda, logo me vem a cena do Werther, você se lembra? todos na festa, dançando, então ele fica com ciúmes porque a Charlotte está dançando com alguém (ou algo assim) e uma tempestade faz a festa desandar? a banda descompassar e tudo o mais? séculos se passaram e olha a gente fazendo papel de românticas (no sentido literal de quem contamina o mundo exterior com sentimentos e vice-versa)... enfim...
Enquanto seu Sol não vem, você também tem quem te dê a mão, sim?
(Como a gente tá bicha)
<3
Eu ri das cenas hahahaha Mas, afinal, o que é a vida sem um drama ocasional?
ExcluirIsso me lembrou outra cena:
http://www.youtube.com/watch?v=IV-TBIm-rlQ
Aguardo a conclusão do seu texto, agora fiquei curiosa. Na verdade, é o feitiço virando contra o feitçeiro, vai já escrever, anda!
No fundo, bem no fundinho, todas somos românticas. Só fingimos ser espertas, mas a verdade é que somos é muito ridículas quando se trata de sentimentos.
(Como a gente tá bicha 2) hahaha
***who has never LOCKED itself in a room (or in the car), turned ON SAD music and cried like the world would end? rs
ResponderExcluirDa onde eu tirei "walked"?
Oo
Bom, você podia estar com sono e confundiu as palavras pela sonoridade delas. São parecidas.
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