Há alguns meses fui arrancada estupidamente do meu conto de fadas, sem nenhuma piedade ou misericórdia.
Tal brutalidade me deixou sem chão ou qualquer noção de realidade.
É curioso como acabei me envolvendo, não só fisicamente, mas emocionalmente durante este relacionamento. Chega a ser hilário eu ter perdido o controle quando acabou. Irônico mesmo foi engolir tudo o que sempre aconselhei às minhas amigas, pois achava o sofrimento delas descabido, exagerado... "Aqui se faz, aqui se paga", o mesmo cabe às palavras ditas.
Confesso que deixei a angústia e a tristeza me dominarem, magoando todos que me amavam e me queriam bem; ignorei amigos, parentes e colegas de trabalho. Tudo era dor. Respirar era um martírio e pensar era um inferno, chorar era um alívio e dormir era uma dávida concedida pelos deuses ao meu espírito perturbado.
Não me orgulho disso.
[...]
Foi em uma segunda-feira, dia 26 de agosto de 2013, que voltei a realidade.
Às 19:58hs, parada na plataforma do metrô eu me distrai olhando para as pessoas e pensei: "Não é possível que com tantas pessoas no metrô, o que dirá no mundo inteiro, eu vá ficar sozinha!". Entrei no trem e busquei o lugar mais confortável das paredes para me encostar e continuar a analisar descaradamente cada indivíduo.
Havia alguém diferente, um homem que realmente merecia ser admirado, pois sua beleza era incomparável. Tentarei descrevê-lo dignamente, mas não creio ser capaz de tanto. Ele devia ter 1,90 de altura, cabelos castanhos claros que lhe desciam até a nuca, lisos e perfeitos. Sua estrutura óssea era sublime, bem definida nas maçãs do rosto e um queixo quadrado; a pele sobre aqueles ossos era branca como o mármore e sua boca bem vermelha, como se todo o sangue que deveria circular pelo seu rosto se concentrasse apenas naquelas duas linhas grossas.
Perdi a noção do tempo, sem conseguir me conter fiquei observando e obviamente ele notou, creio ter visto um meio sorriso curvado naquele rosto divino. Desviei o olhar rapidamente, afinal, não queria passar a mensagem errada, eu apenas admirava tal beleza absurda e incrivelmente doce.
De alguma forma ele veio parar na minha frente, pude analisá-lo com mais afinco pois o espaço limitado não me permitia olhar para mais nada e notei que seus olhos eram inocentes e perdidos, como se uma criança espiasse o mundo através do corpo de um adulto. Talvez a beleza dele fosse demais para a sociedade padronista e ele se sentisse acuado.
Vi que suas mãos eram grandes e grossas, com as veias saltadas. Por maravilhosos 30 minutos pude visualizar e gravar sua imagem em minha mente, pois de alguma forma ele me resgatou do profundo abismo no qual eu mergulhava diariamente.
Posso descrevê-lo como o ar que enche meus pulmões após algum tempo submersa embaixo d'água. Durante a semana inteira esperei vê-lo novamente, mas essa sorte não me foi concedida. Com medo de que minha mente fraca me traísse e apagasse tudo de minha memória, anotei o máximo que pude em blocos de notas me xingando mentalmente por ter ficado hipnotizada e esquecido de pegar o celular e registrar com uma foto aquele anjo.
Às vezes me pergunto se ele realmente existe, se foi um devaneio, ou se ele foi um presente de Afrodite para que eu esquecesse tudo e, enfim, voltasse ao mundo real. A única certeza é que, a partir daquele dia, esqueci tudo que me machucava e decidi que prefiro descobrir o que há de novo do que viver a mesma história mais uma vez.
Jogo esse texto na imensidão do mundo digital para agradecer àquele que, sem saber, me salvou de mim mesma. Obrigada.
Uau... é uma história linda e acho quer fico feliz por tal foto não existir. Talvez se a tivesse tirado, não teria escrito uma descrição tão comovente. E o que é aparência perto do que ele representa essencialmente? Acho que a beleza dele foi só uma desculpa pra sua beleza interior voltar a brilhar. É um lindo texto e uma história ainda mais bonita. Parabéns pela força e obrigada por jogar seu tesouro na rede.
ResponderExcluirObrigada por me incentivar a soltá-lo na rede.
ResponderExcluir^^
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